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Sobre "E eu com isso?"

Se tem uma coisa que o novaiorquino pensa sobre o indíviduo que anda ao seu lado na rua, essa coisa é - e eu com isso?. E aqui a vida é assim, cada um cuida de si, e ninguém cuida da life de ninguém. Fique à vontade para usar sua blusa tie-dye, sua saia de bolinhas, sua meia calça cor de rosa, seu salto plataforma drag-queen, seu chapéu mais espalhafatoso no metrô e tenha a certeza de que a maior parte das pessoas vai fazer de conta que nem te viu... Talvez um turista dê uma olhadinha, mas o New Yorker, jamais!


Eu acho isso o máximo, evoluidíssimo, em uma vida pós Minas Gerais, com suas tradicionais famílias, vendo amigos sofrerem absurdos por serem, apenas, eles mesmos. E isso respinga em quase tudo por aqui, o que pode ser bom e (raramente) ruim, já que falar sobre o outro passa a ter algumas regras. É uma cidade única, "meixxxmo", para a comunidade gay. Coisa mais linda de se ver é todo mundo feliz de mãos dadas pelas ruas, grupos de amigos misturadérrimos, com gays e heteros em total harmonia, entre abraços e carinhos. É encontrar em sites de relacionamento (participo sim senhor, ahhaha, sou solteira na Big Apple) pessoas trans procurando seus pares, festivais de cultura queer, espetáculos de ballet só com pessoas que sentiram que não nasceram no sexo certo. Lindo mesmo! E ninguém usa a homossexualidade como xingamento para o torcedor do time rival, ou para fazer gozação do amigo, ou pra dizer que aquela tal pessoa não é legal.


Coisa boa ver o racismo sendo tão detalhadamente analisado e questionado. Aqui se pensa em tudo mesmo! Na quantidade de negros em uma empresa, em uma peça de teatro, em uma propaganda, nas escolas. A inclusão ainda não é suficiente, mas é real. Entretanto, as regras são tantas, que vez ou outra me sinto agredida. Como, por exemplo, quando ouço que fulano e sicrano vivem uma relação biracial e me pego perguntando, "É preciso apontar a raça numa relação amorosa? Eles vivem uma relação amorosa, ponto. Amor não tem raça".


Sinto ainda pela dificuldade e luta diária das mullheres. Tantos e tantos comentários masculinos ao andar pela rua. Outro dia escutei o cara dizendo alguma coisa pra mim, reclamei na hora e ainda tive que escutar "não sabe receber elogio, não?", "Meu senhor, isso não é elogio, é agressão". Nos bares, os homens ficam perdidinhos, sem saber como agir, já que nunca foram ensinados, em suas casas, a entender a diferença entre conhecer uma mulher e agredir uma mulher, que não conseguem nem olhar para os lados. Não sabem demonstrar interesse, ou entender se a pessoa está afim ou não.


Essa é mesmo uma cidade de milhões de almas solitárias tentando um lugar ao sol, um companheiro no tinder e um apartamento no West Village de 24m2.




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