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Sobre não morar em uma cidade americana

Sempre escutei gente fazendo comparações entre Brasil e EUA. Normalmente elas são para falar mal das terras canárias. É um tal de, lá você não vê lixo no chão, lá tem segurança, lá ninguém passa na sua frente, lá, lá e lá. Muitas vezes essas pessoas têm razão, se falarmos de qualquer cidade que não seja Nova Iorque.


Não é possível fazer qualquer comparação, NY é mesmo um lugar do mundo e não exatamente uma cidade americana. Pra começar, ela é suja. Suja não, ela é imunda! E (pelo que percebo) não é pela falta de organização em casa, ou nas empresas. Todo mundo separa seus lixinhos, seus reciclados, coloca na porta nos dias certinhos. Tem caminhão passando pelas ruas sempre. Mas o novaiorquino, quando chega na rua, independente de sua nacionalidade, é um tanto porquinho. Joga muita coisa no chão. Nossa, isso me irrita de um tanto. E nesse período de inverno, então, é um nojo. A neve cai, cobre o que tem pelo chão, fica preta com a fumaça dos carros, depois descongela, vira uma lama com resto de tudo. Um trem sei lá o que de horroroso.


Essa é uma outra questão. Neve é um charme só, eu adoro. Fico sempre feliz quando vejo ela caindo. E tudo fica lindo mesmo. O chão branquinho, os carros branquinhos, as árvores, os casacos de quem anda na rua, tudo. Um branco tão branco, que dá dó até de pisar. Porém, entretanto, contudo, todavia, o dia seguinte acaba com qualquer beleza. É igual intimidade de casal: é acordar ao lado de alguém, com a cara amassada e bafo de onça e acabar de uma vez com o romantismo, hahaha. O dia seguinte acorda cinza. A neve vai escurecendo, com a poluição dos carros nas ruas, e no fim do dia aquele neve linda já está pretinha, pretinha. Depois descongela e vira uma lama que destrói os sapatos e deixa tudo emporcalhado. Como diriam meus sobrinhos: ecaaaa!


Outra coisa é a falta de delicadeza entre as pessoas. Ninguém se olha em lugar nenhum. Ninguém puxa assunto com ninguém, cada um com seu cada um, ou seja, se você tá com algum problema na rua, resolva sozinha, pois provavelmente não terá com quem contar. E, como o racismo é uma questão super sensível aqui, as pessoas se fecham em seus próprios mundinhos, em seus celulares com joguinhos e música alta no fone de ouvido, para não correr o risco de cometer um erro.


Outro dia estava no metrô e um senhor, morador de rua, dormia em um banco do vagão. Um menino sentou, bebado, próximo à cabeça dele. E em algum momento mexeu demais e acordou o velhinho, que reclamou da pancada. O menino começou a gritar com o senhor e o senhor, irritado e meio fora de si (talvez por morar na rua), gritou de volta. O menino pegou sua mochila e jogou contra o homem. No vagão, nenhuma palavra foi dita. Eu não me aguentei e falei - Você tá louco? Sai daqui agora, vá sentar lá do outro lá - quase como uma professora que manda o aluno difícil para o canto da sala. E ele, assustado com a minha reação, argumentou - mas, mas, mas ele gritou... - eu não quero ouvir, vá e deixe ele quieto aqui. Olhei pro lado, as pessoas nem olhavam para a cena. Ficaram todos em suas cabeças baixas, tentando fingir que não participavam daquele momento. Tentando, já que era impossível não ver a agressão do rapaz. Saí duas estações depois indignada com a situação, respirando fundo pra não deixar que aquela raiva tomasse conta de mim.


Nova Iorque tem tanta coisa linda, tanta coisa sensacional e interessante, seria injusto que ela fosse perfeita. Deixaria de ser maravilhosa e vivaria chata. Esses são alguns detalhes que me incomodam, entre tantos outros legais. E, sinceramente, prefiro notá-los a me adaptar a eles, como essa gente faz por aí.


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