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Sobre ir embora

Li, agora há pouco, um texto super legal sobre a importância de ir embora, de casa, de uma relação, de uma cidade, de uma situação... Ir embora e ponto. Como isso muda na gente, muda a gente, muda as opiniões, as perspectivas, as ideias, as vontades. Ou como traz de volta outras tantas vontades e ideias. A vida é meio isso, né? Uma centena de pequenos ciclos. Passamos a vida inteira tentando fechá-los, para abrirmos outros e, às vezes, não percebemos o complexo processo de vivê-los.


Abri o blog com a ideia de escrever sobre as diferenças entre NYC e qualquer outra cidade desse país (ainda vou escrever sobre isso, já que ontem até perdi a estação que deveria descer do metrô, pensando nisso. Tive que andar 10 quarteirões a pé), mas me deparei com a necessidade de escrever sobre o deixar-se ir. Tenho ido, saído, fugido há algum tempo. Acho que sou uma eterna insatisfeita. Devo ser. Sempre a procura de novidades na vida, na rotina, no trabalho. Porém, mudar, antes, dava a impressão de ir de encontro a alguma coisa. De uns tempos pra cá, vou, saio do que já foi, do que ficou.


Quase dois anos me separam do fatídico momento da descoberta, de uma grande dor, de uma grande mudança, de um rasteira tomada e talvez do período em que mais amadureci. Dois anos me tiraram de uma inocência quase burra e me levaram para onde estou agora, olhando com carinho para a inocência perdida.


Desde então me vejo indo embora, numa constância sem fim. Não sou vítima de nada, nem de ninguém. A vida me mostrou um novo caminho e eu escolhi seguir por ele, assim, como quem escolhe um novo ritual para o dia a dia e renova a fé no caminho.


E fui embora, de um relacionamento, de um casamento, de um plano de vida. Depois fui embora do trabalho. Depois de casa. Depois da família. Depois dos amigos. Depois da cidade. Depois do país. Depois da vida certa e segura. Depois da vergonha de dar de cara com a porta, esteja ela aberta, ou fechada. Depois do sol. Depois do conforto. Depois da rotina. Depois do medo do risco. Depois e depois e depois e depois. Sou, hoje, um conjunto de momentos onde deixei-me ir. E continuo me deixando...


Não sei dizer do futuro. Juro que não. Ontem minha irmã até riu da minha cara, porque eu disse isso. Como eu posso não saber o que quero para o futuro? Ou o que farei no futuro, seja ele próximo ou não? Não sei. Não sei, ponto. Estou deixando-me ir e descobrindo que incrivelmente as coisas se ajustam. Os sentimentos ruins vão, as vezes voltam, depois vão novamente. Outros tantos sentimentos chegam para ficar no lugar, ou para se misturarem, criando novas perspectivas do 'olhar para a vida'. Ideias novas surgem dos mais distintos lugares, vontades chegam, ou voltam, amores aparecem, amizades continuam, independente de qualquer distância, saudade não termina, nunca, só cresce e talvez seja a única coisa que doa em mim, hoje. Uma dor bem grande. Saudade de casa, da família, dos amigos, do calor, da risada, da música, dos sotaques, do mar, do boteco, da comida, do jeitinho, do gato, do sol, das cores, do teatro, de acordar com o radinho ligado no terreno vizinho, das festas, do carnaval, dos churrascos, das conversas, dos cappuccinos com a mamãe, dos meninos brincando, ou brigando, das minhas irmãs discutindo, ou rindo até doer a barriga, do brigadeiro, de sentar no Libanus com meu pai, dos almoços de domingo, dos amores, dos momentos felizes (tantos e tantos), dos tristes também.


A saudade não me paraliza, ela vira motor para a minha vida aqui, nessa cidade de tantas formiguinhas trabalhadoras. Sou mais uma, levando a vida que escolhi há dois anos. Que as vezes é fácil, as vezes é bem difícil, mas certamente é mais leve do que já foi. E feliz.


Instagram - Por mais manhãs com essa combinação: gata no colo + café na mão + pé



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