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Sobre a mistureba de línguas e culturas

A comunicação livre é a grande arma para quem quer sobreviver em um novo país. Em um lugar como NYC, ela vai, e precisa, ir muito além da troca verbal. A cidade deve ter pelo menos 60% de sua populaçao composta por gente de outros países, com outras línguas, outras formas de pensar, diferentes culturas e tradições. Pelas ruas, escuto tanto idioma diferente, alguns reconheço, outras nao entendo nenhuma palavrinha.

E as pessoas vão se conhecendo e se reconhecendo umas nas outras assim. Outro dia, uma menina pediu ajuda no metrô. Queria saber que trem pegar para casa. Eu ia praticamente pelo mesmo caminho, a convidei para me acompanhar. Ela perguntou, "Você é brasileira, né?". Falei sim e quis saber como ela sabia. "Ouvi você e seu amigo conversando. Minha mãe é de Portugal e meu pai é de Cabo Verde, então eu aprendi a falar português!". E começou a falar naquele sotaque xiado europeu, mas com uma leveza que mostrava uma mistura diferente, nova para o meu ouvido. Achei tão interessante a ideia de me identificar através da lingua com uma pessoa que tinha um backgroubd completamente diferente do meu. Coisa que que os hispânicos devem vivenciar bastante por aqui.

Ela está na cidade estudando moda, aproveitou pra me contar que na faculdade onde estuda, metade dos alunos eram brasileiros e que faziam os biquinis mais lindos que ela já tinha visto. Dei risada pensando que a gente leva nossa casa pra onde quer que vá. Os brasileiros, estudantes da fashion school, nao fizeram diferente e trouxeram o verão e as lindas praias para New York. De vez em quando cuido de um little boy gracinha. Ele é filho de uma peruana e de um russo. O pai na verdade veio para cá pequeno e, por isso, fala praticamente só inglês. Já a mae tenta manter a língua materna e fala espanhol constantemente em casa. O little boy mistura os idiomas numa naturalidade impressionante. Fala em inglês, depois responde em espanhol. Comigo por perto, agora, também começou a aprender "Porgutese", como ele mesmo fala. Sempre pergunta: "Como fala isso em porgutese?". Ja sabe algumas cores e dá risada quando percebe que uma palavra é parecida com as que ele já conhece em espanhol, como por exemplo os números. Em sua sala de aula, outras tantas crianças nascidas em NY, filhas de extrangeiros, falam duas línguas e vivem diferentes costumes em suas casas.

Entre os pequenos conheci um que tem pai americano e mãe japonesa. Em casa, após a aula, ele fica com a avó que praticamente só fala japonês. No dia em que nos conhecemos, percebi que eles conversavam o tempo todo na lingua da avó e ele tentava me explicar, quando conseguia, o que ela queria dizer. Às vezes tinha dificuldade em fazer a tradução e perguntava se a tal palavra estava certa. Ela japonesa, eu brasileira, ele confuso com tanta língua, mas se virando melhor do que nos duas.

E essa é uma realidade muito interessante aqui em NY. A mistureba de culturas faz com que a gente aprenda, quase que por osmose, a compreender melhor as diferenças, a entender os países e outras culturas. Essas crianças têm a oportunidade de crescer num ambiente onde as diferenças não são motivo de discórdia e sim de novos aprendizados, numa convivência sadia, onde esse fator é mais comum do que o contrário. É mais facíl encontrar famílias com esse tipo de estrutura, do que as só formadas por americanos (em NYC, claro). Eles, provavelmente, serão mais abertos ao mundo, arriscarão mais em novas possibilidades, já que perceber diferentes olhares faz parte de suas próprias criações como seres humanos e isso é lindo.

Moro com um palestino, que cresceu entre a Jordânia, os EUA e o Egito. E vejo como essa andança pelo mundo fez com que ele se tornasse uma pessoa de olhar aguçado e coração aberto para as diferenças e principalmente para as minorias. Tenho admiração por essa sensibilidade especial que ele construiu e busco ter essa liberdade de pensamento e de relação com o mundo e com as pessoas que o habitam. Quero fazer com que o mundo caiba em mim e fazer dessas muitas sonoridades linguísticas, música para os ouvidos, enquanto caminho na cidade. Quero poder me divertir com a possibilidade de não compreender nada pela palavra falada, mas me comunicar pelo gesto, pelo riso, pelas cores, pelos símbolos. Assim como na tarde que passei com a senhora japonesa, avó do pequeno americaninho. Não nos entendemos muitas vez, mas demos boas risadas por algumas horas.

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